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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Trechos de: Lolita, Vladimir Nabokov

Após concluir essa leitura mais que polêmica, esses foram os trechos que mais me chocaram/impressionaram e que eu separei para postar aqui no blog.






"Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. 


"Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita."

"De repente, sobre nós se abateu uma paixão louca, desajeitada, impudica e agoniante; e também desesperada, caberia acrescentar, porque só teríamos podido saciar aquele furor de posse mútua se cada um de nós assimilasse a última partícula da alma e do corpo do outro."


"Quando tento analisar minhas ânsias, meus atos e motivos, entrego-me a uma espécie de devaneio retrospectivo do qual brota uma infinidade de alternativas, fazendo com que cada caminho visualizado se bifurque sem cessar na paisagem de alucinadamente complexa de meu passado. Porém, tenho como certo que, de alguma forma mágica e faral, lolita começou com Annabel."


"Mas sejamos recatadamente civilizados. Humbert Humbert fazia tudo o que podia para ser bom. Esforçou-se mesmo, com todo o empenho. Tinha o maior respeito pelas crianças comuns, com sua pureza e vulnerabilidade, e em circunstancia alguma atentaria contra a inocência de uma menina, caso houvesse o menor risco de encrenca. Mas como batia seu coração quando, no meio de um bando de inocentes, ele divisava algum pequeno demônio."






"Do pensamento de que por volta de 1950 teria de livrar-me sabe-se lá como de uma adolescente díficil, cuja mágica ninfescência se teria evaporado, ao pensamento de que, com sorte e paciência, eu poderia fazer com que ela eventualmente gerasse uma ninfeta que teria meu sangue correndo em suas delicadas veias, a Lolita II." 


"Eu seria um hipócrita se dissesse - e o leitor um tolo se acreditasse- que o choque de perder Lolita me havia curado da pedofilia. Minha maldita natureza não podia mudar, por mais que mudasse meu amor por Lô."


"Além, nada poderia fazer minha Lolita esquecer a imunda lascívia que eu lhe infligira. A menos que me seja provado - a mim como sou agora, hoje, com meu coração, minha barba e minha podridão - que nas dobras infinitas do tempo de nada importa que uma menina americana chamada Dolores Haze tenha sido privada de sua infância por um maníaco, a menos que isso possa ser provado (e, se puder, então a vida é uma piada), não vejo nenhuma cura para minha desgraça senão o paliativo melancólico, e de efeito muito local, da arte articulada." 


"Eu te amei. Era um monstruoso pentápode, mas como te amava.

Era desprezível, brutal, torpe - tudo isso e muito mais! E houve momentos em que sabia como você se sentia e era um inferno sabê-lo, minha menina querida. Minha pequena Lolita, minha corajosa Dolly Schiller!"

"Portanto nenhum de nós estará vivo quando o leitor abrir este livro. Mas, enquanto o sangue ainda pulsa nesta mão com quem escrevo, você faz parte, como eu, da bendita matéria universal, e daqui posso te alcançar nas lonjuras do Alasca. Seja fiel a teu Dick. Não deixe que nenhum outro homem te toque. Não fale com estranhos. Espero que ame teu bebê. Espero que seja um menino. Esse teu marido, assim espero, sempre te tratará bem, porque, se não, meu fantasma o atacará como uma nuvem de negra fumaça, como um gigante insano, e o destroçará nervo por nervo. E não tenha pena do  C.Q. Era preciso escolher entre ele e o  H.H., e era desejável que H.H. existisse pelo menos meses a mais a fim de que você pudesse viver para sempre nas mentes das futuras gerações. Estou pensando em bisões extintos e anjos, no ministério dos pigmentos duradouros, nos sonetos proféticos, no refúgio da arte. Por que essa é a única imortalidade que você e eu podemos partilhar, minha Lolita."



2 comentários:

  1. Esse livro tem muitas partes boas, né? Incrível! Adorei o blog. Beijos! =)

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  2. Leitura pesada e difícil, seja pelo tema, seja pela forma como o autor em certos pontos se estende em muitos detalhes. Mas mesmo assim uma ótima leitura. Parabéns pelo blog.

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Bem vindo e obrigado por comentar <3

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